Entrevista ao professor Nuno Vasco
Entrevista ao professor Nuno Vasco
Nuno Vasco, professor de geografia, dá aulas na Escola Básica das Naus aos sétimos e oitavos anos, desde 1995.
Sempre quis ser professor? E de Geografia?
Sim, sempre quis ser professor. De Geografia foi uma opção que surgiu mais tarde, mas quando tinha a vossa idade já me via a dar aulas, mas não sabia ainda do quê. Depois obviamente que, como na minha família já havia uma geração de professores de geografia anterior a mim, aliás duas gerações anteriores a mim, foi mais fácil seguir esse caminho, podia ter sido qualquer disciplina, mas o que eu queria mesmo era transmitir conhecimentos.
E gosta do que faz?
Sim, tem dias, claro, como todas as profissões tem dias piores e dias melhores, mas como costumo dizer aos meus alunos, no dia em que vier para cá e não der uma boa gargalhada acho que saio daqui, por isso tenho mesmo que gostar do que faço.
Há quanto tempo dá aulas?
Se não estou em erro, eu vendo aulas baratinho há vinte e um anos, mas dar, dar, dar, já dei algumas, sim senhor, em casa, ofereci e estou disponível para os meus alunos gratuitamente, mas se não me pagassem também tenho impressão que não vinha.
Certamente dar aulas hoje em dia não é igual a dar aulas há dez anos atrás…
Como disse, eu não dou aulas, mas sim vendo aulas! Hoje em dia é completamente diferente do que dar aulas há dez anos atrás e há vinte anos atrás. A geração mudou, o mundo mudou imenso, ah… só por comparação, quando eu comecei a dar aulas, a internet era um elemento que não existia nas escolas e depois foi sendo introduzido progressivamente, e hoje em dia todos os alunos têm informação à distância de um clic, à distância de carregar num botão, o que obviamente altera todas as coisas. Eles estão numa sociedade de informação, que dantes não estavam e exigiam muito mais trabalho para encontrar a informação. Isso fez mudar não só o método de ensino, mas principalmente as características dos alunos que, com o imediatismo e com a informação próxima, se tornaram menos capazes de procurar a informação por eles próprios. Posso, por exemplo, dizer que grande parte dos meus alunos nunca utilizou uma enciclopédia e têm dificuldades com um dicionário e isso é paradigmático da geração que nós temos hoje em dia.
É difícil lidar com tantos alunos ao mesmo tempo?
Claro, o excessivo número de alunos por turma e o excessivo número de turmas que cada professor tem num ano não permite dar o tempo necessário a cada um deles, que deveríamos dar. Obviamente, uma turma de vinte alunos requer um tempo de atenção que uma turma de trinta alunos já não consegue ter, portanto obviamente que é difícil. Posso dizer que no ano passado tinha cerca de duzentos e vinte alunos por semana, era difícil memorizar os duzentos e vinte nomes, quanto mais ainda conseguir dar uma nota, que efetivamente correspondesse às capacidades deles. Precisávamos de reduzir muito o número de alunos para cada professor, de maneira a que pudéssemos avaliar bastante mais, de forma mais eficaz, as suas capacidades, porque há alunos que obviamente têm negativas e que terão mil e uma qualidades, de que nós não nos apercebemos porque se dilui num universo tão grande.
Não é cansativo estar sempre a repetir as mesmas coisas em tantas turmas?
Sim, repetir ao longo de um dia torna-se cansativo, mas uma aula, como todos os professores e mesmo alguns alunos repetentes sabem, nunca é igual à outra, mesmo que a matéria seja igual, nunca vai seguir o mesmo caminho, há sempre um aluno que tem uma ideia e coloca uma questão e pronto a aula segue outro caminho, portanto nós não somos propriamente papagaios que repetimos a mesma coisa e debitamos a nossa informação da mesma forma. E obviamente há turmas mais proativas, há turmas mais passivas e há aulas mais práticas, portanto a própria matéria se adapta e os próprios conteúdos se adaptam ao universo que nós temos à nossa frente, portanto é obviamente cansativo preparar as aulas, levar a matéria, preparar exercícios, corrigir testes, mas repetir, repetir, nós não repetimos. Além disso, estamos num mundo em constante evolução, portanto a própria matéria vai evoluindo e hoje em dia uma aula de há vinte anos atrás com a mesma matéria é diferente porque os conteúdos evoluíram, o mundo evoluiu, portanto tudo evoluiu, incluindo a matéria.
Nunca pensou em ter outra profissão?
Sim, claro, principalmente ao fim de aulas que correm mal, e uma pessoa pensa o que é que anda aqui a fazer. Obviamente que penso muitas vezes em ter outra profissão, mas também considero que a profissão de professor não é a pior de muitas profissões, nomeadamente a de ator ou palhaço, mas muitas vezes somos palhaços, portanto é difícil encontrar uma profissão que me satisfizesse mais do que esta, a não ser qualquer coisa relacionada com os meus hobbies. Mas depois se os meus hobbies se tornassem profissão, se calhar por hobbie dava aulas. (risos)
Muito obrigado pela sua participação nesta entrevista e pela colaboração para o nosso trabalho escolar.